terça-feira, 22 de abril de 2008

Sinto!

Já faz algum tempo que não volto aqui. Por muitos motivos interrompi o hábito de registrar aquilo que experimento, apesar de considerar este registro como algo complementar à terapia. Contudo, não quero me impor cotas de sentimento e percepção! Mas sinto!
Quero dizer que experimento, nestes meses, não somente a aventura de ser outro, mas o prazer de mergulhar num universo que arrisquei ter, que aprendo a ser e que não quero voltar!
Tenho pouco tempo para aprender o meu filho. Ele já sabe disso!
Vejo Heitor chorar pouco, rir pouco. Não vi ele mamar, acordar ou ir dormir todos os dias.
Algumas pessoas dizem que ele parece comigo. Preciso disso!
Quero ser nele!
Também gosto que ele pareça com a mãe. Sou marido de Anne e, unicamente por isso, pai de Heitor. Aprendemos juntos e somos aquilo que lutamos, que negamos... ar e água.
Parece papo de todo mundo, mas nestes dias colei no meu bebê. Conversamos muito e, por uma questão de quem não tem tempo a perder, decidimos por conversar na língua dele! Gargalhamos muito. Cantei pra ele e ele dormiu no meu braço. Até cantamos uma música juntos!
Nestes dias, senti aromas, restabeleci sabores.
Quando poderei ser homem, amante, pai e cantar outra vez?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Pai, Filho e Espírito Santo

Heitor nasceu!
Apesar do risco de um parto prematuro com a hemorragia de um descolamento de placenta, parece que ele escolheu a hora de nascer! Não respeitou ninguém, nem as provisões, nem o planejamento, nem as previsões...
Em segundos, entendi qual era o meu real papel e acabei com as frescuras de medo de sangue, da pressão do momento, da possibilidade da morte no evento. Percebi que, antes, tinha medo de ser testemunha de algo que eu não gostaria de conviver.
Cedo, ainda bem, tomei as rédeas daqueles que são meus e, somente eu, poderia e deveria estar ali.
Somente eu vi o olho de Anne e o tudo que ele denunciava. Não sei como sabia que estaríamos bem. Mas quando?
Vi meu filho que, durante oito meses, era tão misterioso!
Somente eu e a mãe dele sabíamos o que estávamos vendo! Sabíamos que ali existiam medos, dores, passado e (des)culpas...
Vimos e sabíamos o que era o choro que ouvimos!
Ele estava lá em choro, em movimento e em dor por perceber o mundo!
Finalmente nos encontramos e, de repente, viramos família. Tínhamos obrigações, um cotidiano e rotina para construir.
O grande problema das surpresas é que elas impedem a concretização de um projeto perfeito. Por outro lado, garantem emoções não previstas ou calculadas. A ausência do aparato tecnológico necessário aos pais ou acompanhantes de grávida durante parto, permitiu que, ao invés de tentar conseguir imagens de sentimento ou a revelação primeira da cara do novo cidadão, possibilitou a existência minha ali em tensão, companheirismo, dúvida, ansiedade...tive a chance de me perceber vivo, companheiro, pai e NUNCA um cinegrafista. Participei!
Estamos, neste momento, experimentando a construção de um projeto que impõe desdobramento. Além de PAI e MÃE, percebemos que temos empregada pra mandar, compras convencionais pra fazer, pensar todo dia em almoço e jantar e, pior, perceber e administrar a infra de uma casa. Donos de casa!
Pra completar, na sexta de carnaval, Heitor foi internado por conta de forte icterícia e passou 4 dias no hospital. Foi um período até tranqüilo, considerando um ambiente de hospital e no CARNAVAL! O folião virou pai!
Parece redundante e papo repetitivo, mas como é importante voltar pra casa neste momento e perceber que o bebê tem saúde! Como é ruim assistir à recuperação daquele bebê que era barriga e ultra som e, de repente, virou pessoa minha com luta e metas pra atingir.
Ele chegou, mas se isso não fosse possível eu e a mãe dele já sabíamos que explodiríamos o Hospital, os médicos e todos aqueles que não permitiram que o MEU FILHO finalizasse aquele ciclo o quanto antes!
Hoje, Heitor tem 26 dias de vida fora da barriga. Por isso mesmo, tive que encarar, além do novo, a antiga rotina de trabalho.
A maior parte dos dias úteis, trabalho, pelo menos, 12 horas. Isto significa, agora, 12 horas de ignorância das vivências do meu filho.
Percebi que, neste processo, antes de um filho buscava ou até ignorava a existência de um outro homem. Reinventei uma criatura que se depara com um universo desconhecido e não sabe se tem que enfrentar ou aceitar. Vivo cada e decido segundo.
No início desta “invenção” fui o Super, mas o medo reconfigura e mina qualquer definição.
Saio de casa todos os dias com uma imagem do meu bebê, de Anne e de um castelo que parece desprotegido. Tenho a agonia de esperar e até apelar para o abstrato.
De repente e não sei quando, comecei a rezar!


terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Eu quero frevo!

Sou recifense da gema e, por isso mesmo, percebi que, há anos, esta época do ano me deixa com certa aflição.
Por amor ao Recife e a Pernambuco, pelo trabalho com escola e turismo, por amigos e pelo carnaval, carrego comigo uma série de informações, concepções e credos daqueles que realmente se orgulham de onde vivem e do legado histórico / cultural que nos pertence.

Sou do carnaval. Sinto-me tão parte dele que até desenvolvi um gingado, ombro a cima, para o caso de filmagens em helicópteros.
Sinto que é responsabilidade também minha mostrar ao mundo a nossa animação, garra, colorido e igualdade de oportunidades.
Nós ainda não temos isolamentos, espaços vips, camarotes...reformulando, cada vez mais percebo “Casas da Globo”, “Camarote do Galo”, qualquer coisa beer...

É complicado viver num mundo com pessoas que não imaginam viver, sem que todos percebam o seu poder de consumo e que, estes, podem decidir sobre o espaço público.

O grande problema é que não dá pra mercantilizar aquilo que é abstrato, que faz parte de um aprendizado e construção secular, aquilo que vem das experiências coletivas.

Pessoas que não se misturam deveriam ir pra casa de praia, fingir que precisam descansar porque trabalham muito...porque o foco “é muito violento!”
Ultimamente, tenho também percebido um grupo de criaturas “animadas” e que se acham a expressão da folia e, por isso, não conseguem deixar o carnaval. Até ensaiam um cordão de isolamento com uns seguranças e, pior, contratam desempregados (garçons) para servir whisky em copos de vidro.
Afinal, gente fina e animada não pode passar sem um escocês em baixo de um sol de 40º!
Como é uma bebida muito pesada pra carregar, é realmente necessário um outro para servir e carregar a garrafa na multidão!

Na verdade, não iniciei este texto pra falar sobre gente assim. O assunto terminou aparecendo! Estava escrevendo pra falar sobre a minha pessoa que, venhamos e convenhamos, é um assunto mais seguro e sem possibilidades de confusão.

Como iniciei, a minha aflição vem de enlouquecer pra encontrar uma resposta sobre a dificuldade em dançar frevo! Que dancinha difícil do caralho!!!!!!!
Eu já justifiquei a minha lealdade a Pernambuco e já até me apropriei de um hall de informações e atitudes necessárias ao recifense, olindense...
Por que, então, saber frevar...ter ritmo de frevo não faz parte desse pacote?
A dança não faz parte das manifestações culturais de um povo, afinal?

Como disse abaixo, no meu momento de encarar com naturalidade o desafio e a nova experiência, resolvi participar de uma aula de frevo promovida pela academia que “malho”.
Pra ser sincero, todos os anos, quero, sempre em janeiro, encontrar uma turma de frevo para me matricular, mas nunca fui as vias de fato.
Hoje, fui ao encontro da minha completude de identidade!
RESULTADO:
Uns nascem pra dança e outros pra porra nenhuma!!!!! Eu.

Lógico que segui, inconscientemente, a seqüência do texto abaixo: fui de verde, cheguei atrasado, errei quase tudo e, lógico, participei do momento “eu não devia ter ido!
Este é aquele momento da culminância do aprendizado da aula. Este é o momento que o aspirante a passista faz uma dancinha, sozinho, no meio da roda com uma sombrinha de frevo e incentivado pela professora. É melhor passar o assunto!!!!
Já no momento coletivo, eu, modéstia a parte...passamos o assunto também!!!!

Por fim, numa sala de academia toda espelhada e com a intenção de dançar FREVO, eu até sobrevivi, mas não sei se me atrevo novamente!
Espero que meu filho complete ou conserte esta ‘besteirinha’ rítmica!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Malhação?

Como todo senhor do exagero, considero-me também senhor de todos os micos.
Nada fora do comum, exceto pela constatação que cometo uma gafe, encontro-me numa “saia justa” ou percebo uma situação, no mínimo, constrangedora, pelo menos uma vez por dia.
Até aí faz parte da vida...agora é aceitar o destino!
O grande problema é que, depois de 31 anos bem vividos e engordados, resolvi entrar num programa de Qualidade de Vida promovido pela empresa que trabalho. Na verdade isso significa entrar numa academia de ginástica e, pra entrar bem no clima, traduz-se em fazer dieta e “MALHAR”! (Ahr!!!)

Pra nós, vamos dizer assim, “avessos” a este estilo de vida, significa que você passará a vivenciar situações completamente DIFERENTES das rotineiras, sem contar que também iniciamos uma cadeia de emoções que, puta que pariu, é melhor não sentir!

Tudo se inicia na avaliação.
Este momento deveria ser estudado pelos físicos e filósofos, pois é ali que se encontra maior carga de energia de ‘efeito contrário’ produzido por um ser humano.
Você chega e um cara sem uma gota de gordura (nem no lábio) está esperando por você...pior sorrindo!
Primeiras palavras torturantes: “tira a camisa!” Deu-se a desgraça!
Neste momento, como uma defesa masculina obesa ao constrangimento chega a porra do "efeito": o pinto entra, a barriga projeta-se pra frente de forma jamais vista, os músculos inexistentes do braço e do peito transformam-se em camadas de gordura que apontam para o chão e, pra completar, a sua cara esboça um riso amarelo que quer dizer “normal!”, mas no fundo dá uma vontade de dizer “desculpa, desculpa!!!!”.
A tortura continua porque ele manda você colocar aquela tira que fica medindo a freqüência cardíaca embaixo do peito. Não que doa ou aperte, na verdade nessa hora é o que menos importa...o problema é que a porra da tira ao mesmo tempo que suspende, deixa os peitos bicudos e pra frente!
Sem brincadeira, isso dura horas de “levanta”, “senta”, “você já fez algum tipo de exercício antes?” Ou seja, você tem que responder e ficar sentado de frente pro cara e o peito lá...bicudão! Não tem riso amarelo que se mantenha!
Pra variar, o resultado da avaliação foi aquele esperado: NADA PRESTA!

Primeiro dia: mico!
Não selecionei bem o figurino e escolhi uma combinação de shorts e camisa verdes...já o tênis tinha uma faixas verdes também.
Pense em 1,85 m de milhares de quilos verdes caminhando numa esteira refletida tridimensionalmente...não pense!
Quando um gordo resolve uma loucura, como ir pra academia, quer ficar assim escondido e resumido e não ser a imagem de um armário de alface!!!!
E, pra entender melhor, nós não sabemos fazer aqueles jeitos de levantar os pesos, nem pensar numa postura ou murchar a barriga...é no mínimo estranho!!!

O começo, sendo bem simples, é algo que fica entre um ataque epilético e uma crise de labirintite, quando se tenta demonstrar que tá tudo normal e nada demais está acontecendo!

Sobrevivi, mas todo dia era algo inusitado!
Já caí, já achei que tava super malhado e levei carão da professora, já peidei sem querer e, os que não ouviram, reclamaram do mal cheiro...
Faz seis meses que estou na luta!
Antes eu achava que eu continuava pra poder tomar banho no meio do expediente. Voltava super relax e olhava todo mundo muito bem e até com amor no coração!

Também tive ganhos. Emagreci e alguns músculos apareceram.
Hoje, faço CORRIDA na esteira e tou muito mais tranqüilo e seguro quanto a convivência com meus colegas da academia. Acho até que tou enfrentando tranqüilamente novas situações.

Aquele avaliador virou colega e ombro pra dividir angústias, pois ele também é professor da rede pública. Hoje, tenho certeza que jamais passou pela cabeça do Sr. “sem gordura nem no beiço” aquilo tudo que eu imaginei que ele avaliava.

Por fim, tenho pensado numa frase que já vi em muitas camisetas por aí. A frase diz assim:
“Sou gordo, mas posso emagrecer! E você que é feio?”
A vida de gordo faz com que tentemos potencializar os nossos talentos, o nosso melhor sorriso, a melhor pose, ter o melhor papo pra atrair a presa...
Ainda, ser gordo desenvolve algumas habilidades como estudar pra se safar/compensar, pros outros, não fazer a ginástica saco da escola. Desenvolve a habilidade de ficar muito bem, mesmo quando o mundo cobra que você seja um pouco mais estreito!

Na verdade, aprendemos a falar para descrever um mundo que se distancie do foco que somos e que não queremos evidenciar.

Resumindo, estou construindo uma potência do futuro: lindo, malhado e sabido!!
Posso emagrecer!!! E você???

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

A Leveza do Mundo


A gestação está quase no fim e, sinceramente, mal posso esperar a tal hora de ver o meu filho. Pra mim, agora e ainda, Heitor não passa de um conjunto de sombras que se movimentam pelos instrumentos das ultras...

Melhor que um livro, as ultras são responsáveis por despertar uma imaginação tão engajada num propósito. Imagino meu filho pedalando ao meu lado, na escola, chorando, fazendo alongamento comigo e tomando café da manhã.
Não sei como posso explicar esse tipo de coisa, mas é uma coisa que não se percebe normalmente, até mesmo porque a forma e o concreto parecem menos importantes.
Tento organização, tento preparação...mas como prever o humano?
Refazer as casinhas que muitas vezes ensaiamos impõe rever obstáculos.
No caminho, entre o lúdico e o real, muitas informações foram suprimidas.
Pra dizer a verdade, o pânico não se encontra nas futuras noites de sono perdidas ou na preocupação eterna dispensada a outro ser.
É que eu descobri que existe, entre os casais recém estendidos, uma espécie de sadismo que não ajuda em nada quem está na cruzada gestacional.
Ou seja, não me preocupam mais as mudanças próximas, mas sim a existência de uma galera que espera repassar o cajado do “se fudeu” e, ainda, que eu não quebre essa corrente adiante!
São incontáveis as vezes que, anterior a qualquer conversa sobre a novidade presente, me deparo com frases do tipo “agora vocês vão ver o que é não dormir!”
O pior de tudo é que se fala com um sorriso como se as palavras fossem “Parabéns! Como é bom ter mais um bebê no mundo!”
Será que alguém sabe o que é não dormir???
As pessoas não sobrevivem sem dormir, não é?!?!
O problema é que, seguindo estes questionamentos, me deparo com dúvidas desagradáveis:
Será que me tornarei assim???
Será que repassarei o cajado da informação inútil e bizantina???
Terei prazer em noticiar agonias???

A gestação foi planejada e, óbvio, fizemos previsão de falhas e perdas. Isso já não é suficiente?
Ficarei sem dormir sim, cansado sim e até sem paciência algumas vezes...
Eu escolhi isso e mal posso esperar pelas pedaladas, pelo alongamento e pelo café da manhã!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Continuo


De Maio pra cá, eu refiz o meu mundo várias vezes, até mesmo porque decidi viver e pensar na vida sob a ótica da continuidade.
Continuar é, antes de tudo, saber que tenho algo a construir e, mesmo que não seja eu, existe força que parece apontar o meu sentido.
Continuo em carne, em sangue, em osso. Continuo porque reservei algo que alguém seguirá depois de mim.
Não sei quem é esse alguém.
Sei que é homem, grande e forte! Tem nome bonito e de alguém que protege, que luta.
Ele não imagina o seu legado, apenas luta neste momento com o instinto.
Terei filho!