terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Pai, Filho e Espírito Santo

Heitor nasceu!
Apesar do risco de um parto prematuro com a hemorragia de um descolamento de placenta, parece que ele escolheu a hora de nascer! Não respeitou ninguém, nem as provisões, nem o planejamento, nem as previsões...
Em segundos, entendi qual era o meu real papel e acabei com as frescuras de medo de sangue, da pressão do momento, da possibilidade da morte no evento. Percebi que, antes, tinha medo de ser testemunha de algo que eu não gostaria de conviver.
Cedo, ainda bem, tomei as rédeas daqueles que são meus e, somente eu, poderia e deveria estar ali.
Somente eu vi o olho de Anne e o tudo que ele denunciava. Não sei como sabia que estaríamos bem. Mas quando?
Vi meu filho que, durante oito meses, era tão misterioso!
Somente eu e a mãe dele sabíamos o que estávamos vendo! Sabíamos que ali existiam medos, dores, passado e (des)culpas...
Vimos e sabíamos o que era o choro que ouvimos!
Ele estava lá em choro, em movimento e em dor por perceber o mundo!
Finalmente nos encontramos e, de repente, viramos família. Tínhamos obrigações, um cotidiano e rotina para construir.
O grande problema das surpresas é que elas impedem a concretização de um projeto perfeito. Por outro lado, garantem emoções não previstas ou calculadas. A ausência do aparato tecnológico necessário aos pais ou acompanhantes de grávida durante parto, permitiu que, ao invés de tentar conseguir imagens de sentimento ou a revelação primeira da cara do novo cidadão, possibilitou a existência minha ali em tensão, companheirismo, dúvida, ansiedade...tive a chance de me perceber vivo, companheiro, pai e NUNCA um cinegrafista. Participei!
Estamos, neste momento, experimentando a construção de um projeto que impõe desdobramento. Além de PAI e MÃE, percebemos que temos empregada pra mandar, compras convencionais pra fazer, pensar todo dia em almoço e jantar e, pior, perceber e administrar a infra de uma casa. Donos de casa!
Pra completar, na sexta de carnaval, Heitor foi internado por conta de forte icterícia e passou 4 dias no hospital. Foi um período até tranqüilo, considerando um ambiente de hospital e no CARNAVAL! O folião virou pai!
Parece redundante e papo repetitivo, mas como é importante voltar pra casa neste momento e perceber que o bebê tem saúde! Como é ruim assistir à recuperação daquele bebê que era barriga e ultra som e, de repente, virou pessoa minha com luta e metas pra atingir.
Ele chegou, mas se isso não fosse possível eu e a mãe dele já sabíamos que explodiríamos o Hospital, os médicos e todos aqueles que não permitiram que o MEU FILHO finalizasse aquele ciclo o quanto antes!
Hoje, Heitor tem 26 dias de vida fora da barriga. Por isso mesmo, tive que encarar, além do novo, a antiga rotina de trabalho.
A maior parte dos dias úteis, trabalho, pelo menos, 12 horas. Isto significa, agora, 12 horas de ignorância das vivências do meu filho.
Percebi que, neste processo, antes de um filho buscava ou até ignorava a existência de um outro homem. Reinventei uma criatura que se depara com um universo desconhecido e não sabe se tem que enfrentar ou aceitar. Vivo cada e decido segundo.
No início desta “invenção” fui o Super, mas o medo reconfigura e mina qualquer definição.
Saio de casa todos os dias com uma imagem do meu bebê, de Anne e de um castelo que parece desprotegido. Tenho a agonia de esperar e até apelar para o abstrato.
De repente e não sei quando, comecei a rezar!