segunda-feira, 14 de maio de 2007

OTTO

Cato em minha memória, mas realmente não sei qual era a maior característica de Otto. Sempre que penso sobre ele, somente visualizo algo pesado, esdrúxulo e espaçoso. Estranho não?!
Otto era um Dogue Alemão que apareceu na minha vida um ano antes que eu saísse da casa da minha mãe. Na verdade, ele foi uma aquisição mais ou menos programada para o ocupar e proteger o lugar que eu ia morar. Ele mais ocupou que protegeu!
Acho que ele entendeu, mais cedo que eu inclusive, que é muito melhor ser amado que eficiente no trabalho...o problema é que ele esquecia que, às vezes, a gente tem que fingir que tá trabalhando!
E, naquela única vez talvez que ele fingiu, todo mundo percebeu! Foi lindo!
Ele agradava a todos e, ainda bem, que os malfeitores não descobriram isso!

Otto deveria ser magro e elegante como os da sua raça. Não era! Era mal feito e gordo, exagerado, espalhafatoso e cheio de algumas manias. Como passava o dia inteiro solto e sem nenhuma amarra, teve tempo de desenvolver uma rotina própria e, pior, tinha apego por ela. Corria quase nunca! E pisar na terra? Nunca! Sentir no pêlo uma minúscula gotícula de chuva? IMPOSSÍVEL!!!
Esse problema de Otto com a água era tão sério que, na véspera de sua morte e muito doente (quase desacordado), caiu a maior chuva. Isto fez com que o cachorro levantasse e caminhasse até um espaço sem qualquer risco molhado. Já era convicção!
As alterações possíveis para a sua rotina baseavam-se na nossa chegada, mas isso também era rotina! Neste momento, ele posicionava-se nas portas mais próximas dos lugares que estávamos e participava das nossas conversas, brigas, refeições e até esperava um pequeno prêmio como um osso ou pele de galinha... O rapaz nasceu pra comer!
Desde pequeno, comia ração...odiava! Adorava realmente comida de gente, comida gordurosa, pirão e, como eu, cuscuz ou algo com fubá era o seu fraco! Comeu até o último dia de vida e, nas poucas vezes que parou ou ficou sem fome, era pra mobilizar um hospital!
Entretanto, apesar de comer muito, não era rude...ao contrário! Sabia como proceder numa mesa. Sabia tanto que, uma vez, quase arruinava a reputação inquestionável de seu Paulo (pedreiro da casa). Ninguém, em sã consciência, quis acreditar que este homem não tinha tocado naquela comida posta pra ele na cozinha. Como ele deixou a porta aberta, Otto entrou e devorou um prato com pão, bolo, biscoitos salgados e doces... Pasmem, o cachorro bebeu o café com leite de uma xícara cheia...sem derramar! Tudo isso sem os barulhos indesculpáveis dos rudes! Quem acreditaria em seu Paulo, já que estamos falando de um Dogue Alemão?

Otto adorava os aromas de perfumes, flores, de galeto e daquelas áreas mais íntimas das pessoas... Ficávamos, por vezes, um tanto envergonhados!
Outras situações também nos incomodava: ele arrotava como gente. Quando soltava um leve gemido, era o sinal para que as portas fossem trancadas, pois aquele super PUM com efeitos de ogiva nuclear estava próximo! Ai de quem não corresse ou procurasse proteção!
Mesmo assim, Otto não fazia e nem gostava dos barulhos desnecessários. Não latia em demasia...ele tinha preguiça e se irritava quando Tobias, nosso outro cão, fazia este serviço. Pra ele, isto era um exagero e imperdoável! Não esqueçam que estamos tratando do dono da casa!
Finalizando, Otto tinha câncer e estava cego. Eu costumava compará-lo ao “meu general”, porém os generais tornam-se busto e não morrem!
Por incrível e difícil que pareça, não consigo lembrar muito bem deste período de doença, nem quero. Apenas mantenho lembranças de uma figura que calmamente repousava a cabeça em meu colo ou deitava no chão para acomodar os meus pés e receber uma coceirinha ao mesmo tempo! Um amigão que cuidava pra não machucar as minhas mãos quando recebia comida na boca e, mesmo muito mal, continuava a abanar aquele imenso rabo como se dissesse “relaxa!

Dizem que o cão é o reflexo do dono e Otto era a minha cara: gordo, grande, mal feito, estabanado e adorava cuscuz!

quinta-feira, 10 de maio de 2007

TERAPIA


Na verdade, acho que a coisa mais legal que fiz durante o ano passado foi iniciar uma terapia, não porque buscava uma ajuda “especial” para problemas de uma mente insana. A mente insana existe sim (como em todas as pessoas), mas sempre acreditei que se o mundo inteiro fizesse terapia, teríamos um mundo melhor.

Por outro lado, comecei a desenvolver uma coisa de claustrofobia e não sei o motivo. Tava de um jeito que eu não conseguia mais entrar num elevador normalmente (principalmente cheio), não conseguia mais ficar em lugares barulhentos e com muita gente ou, por mais incrível que pareça, entrava em pânico para possibilidades de ambientes fechados e diferentes como túneis, subsolo... percebi sobre estes ambientes porque deixei de respirar num tunelzinho da BR 232, que passamos quando estamos indo de Recife para o interior de Pernambuco.

Apesar de ser um problema relativamente sério, nunca fiz qualquer relação entre a claustrofobia e a terapia. Pra mim, a terapia era aquilo do mundo metropolitano, educado e intelectualmente iniciado. Por causa disto mesmo, era também complicado achar um bom terapeuta, já que eu estava pensando nas linhas de abordagem, nas referências filosóficas ou no referencial teórico...blá!

Tudo começou quando eu comecei a conversar sobre isso com um colega de trabalho que, por acaso, fazia terapia há muito tempo, pois a sua esposa tinha desenvolvido uma depressão muito séria e ele tinha necessidade de lidar com o problema. Para ele, nunca existiu realmente uma preocupação quem porra é Jung ou Freud... Pior, como este meu colega trabalha numa empresa de energia (lógica de engenheiro pautada em resultados), buscava apenas, sem rodeios, a solução para seu problema. Estava conseguindo esta solução!

Talvez isto tenha sido fundamental para que eu mantivesse o interesse. Primeiro, ele não estava preocupado com os meus julgamentos ou confirmações intelectuais sobre Psicologia. Segundo e mais importante, ele apenas estava conversando comigo sobre tal assunto e até me aconselhou procurar o cara, mas não existia ali um valor formado, como têm os meus mais próximos sobre o processo.

Era como um conserto para algo quebrado. Fiquei a vontade!
Daí, pedi o nome do terapeuta e, melhor, ele atendia pelo meu plano de saúde. Foi difícil encontrar uma vaga já que não é uma consulta normal e impõe certo procedimento. Um dia este espaço apareceu e eu fui!

Inicialmente, o cara tinha todo o “H” que, pra mim, um terapeuta deveria ter. Ao telefone voz de sono, uma sala num prédio de escritórios de numa rua arborizada e movimentada, tinha uma a sala de espera pequena e impessoal e sem atendente. Ou seja, as pessoas não precisavam de anunciação e também não encontravam com ninguém, evitando aquelas chatas conversas de espera em consultório. Há uma câmera de vídeo que ele usa para monitorar a chegada das pessoas. Todos apenas se cruzam, pois um está saindo e o outro esperando. Quando um sai, ele aparece na porta e diz: “Já já eu te chamo!”. Porra, sinceramente eu acho que ele não faz nada lá dentro e tudo isso é uma grande cena criada para você pensar: “O cara é foda mesmo!” E não acabou. Quando ele te chama, você percebe que existem duas portas na mesma esquadria que são cuidadosamente trancadas, dando um ar de mistério e inviolabilidade dos segredos ali dentro tratados e revelados. Já convenceu!

A sala é meia luz e duas cadeiras, uma de frente pra outra, estão prontas para o processo. Você fica um pouco confuso, até mesmo porque é muito chato conversar qualquer coisa e ter assuntos tão pessoais com um estranho. Primeiro, ele apresenta-se e aí, sim, começa a falar sobre as suas referências teóricas. A melhor frase e de efeito é quando ele diz: “Pra mim é importante quando desenvolvemos um bom relacionamento aqui dentro, se por um acaso você me encontrar na rua e não falar comigo, tudo bem! Eu não espero isso de você!” Pronto, o enlace foi feito!

Acho que, realmente, a terapia é aquele momento semanal que você tira pra pensar em você mesmo, mas de forma ordenada. É estranho quando você começa a se ouvir e, por causa disto, redirecionar o olhar, pensar sobre os mesmos eventos de outra forma e, melhor, buscar outros tipos de relações para conectar os acontecimentos. Às vezes, isto pode ser provocado pelo cara. Aí você se assusta mais ainda!

O meu terapeuta tem uma formação psicanalítica, mas, por inquietude, passou a buscar outras formas de abordagem e referência. Jung, Gestalt, Somaterapia...uma caralhada de coisas fazem parte das suas buscas. Atualmente, ele tem focado o trabalho num tal de Fiorini que eu nem sei quem é!
Ainda, o fulano faz parte do Conselho de Psicologia, trabalha em alguns hospitais e com crianças com câncer, trabalhou em presídios...ou seja, tem uma vasta experiência na profissão. Este resumo certificou as minhas expectativas da época!

No consultório, ele atende a muita gente com grana e alguns fudidos como eu que, por acaso, possuem um plano de saúde (único que ele aceita). Isso também pode ser entendido como um problema, pois, às vezes, uma origem burguesa e pouca discussão política terminam por deixá-lo preso às questões próprias da classe social. Nem tudo é perfeito!
Em relação a minha pessoa, acho que sou ainda muito analítico para discutir os meus eventos. As emoções não calculadas não se fizeram presentes ainda na terapia. Para isso, ele me disse: “Acho que você ainda deixa sua loucura muito presa!” Por essa afirmação, meus olhos arregalaram-se e eu passei muito tempo pensando sobre isso. Bom exercício mental!

Por fim, novamente acho que Anne continua sendo a mais sã! Nas suas leituras, estas com um implícito intuito de desautorizar a terapia (coisas de esposa), descobriu que qualquer um pode ser terapeuta, basta ter disponibilidade e sapiência para ouvir. Não existe, pelo que parece, nenhum conselho ou registro que casse os falsos terapeutas. Quando ouvi sobre isso, tive um pouco de preconceito! Mas pensando bem, passei a refletir sobre este processo e refiz todo o caminho pra entender os motivos que me faziam sentar numa cadeira e depositar, em mãos alheias, segredos que não contaria nem pra mim mesmo. Percebe que Anne fez do terapeuta aquilo jamais tolerado pelos iniciados filosoficamente? Ela retirou aquilo que nós, no nosso mundo atual, não entendemos ou aceitamos... excluiu título ou o tal do certificado que comprova a eficácia. Fudeu tudo!!!

Felizmente, percebi que o processo não é dado pelo senhor título ou pelo retirador dos segredos mais profundos de cada humana existência. O processo se dá por você mesmo que, incrivelmente, precisa de uma mínima platéia para validar e tornar concreto aquilo que parece abstrato e íntimo. A intimidade não seria nada sem a possibilidade de ser desmascarada ou exposta!

*Este texto, antes de editado, foi criado e enviado pra uma amiga que me pediu informações sobre o processo de terapia que venho fazendo.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Explico...


Toda vez que penso sobre o início desse Blog acho que fico envergonhado! Ao mesmo tempo, alguns princípios fazem com que eu mantenha a primeira postagem. Trata-se, pois, de um desabafo, de uma confusão mental, de uma alternativa super alternativa para aquilo que eu não conseguia processar.
Por outro lado, algo tem me impulsionado para escrever aqui, na verdade. Acho que, de uma ano pra cá, minha vida mudou muito e, talvez por isso mesmo, fiz grandes movimentos que determinam novas respostas, alternativas...
Quando comecei a pensar em criar um Blog, tinha a intenção, até mesmo por conta dos Blogs que me foram apresentados por minha esposa, de registrar algo interessante e que demonstrasse, com certo humor até, a forma como julgo alguns eventos, histórias ou pessoas. Parece que não deu muito certo. Pelo menos, até agora.
O mais legal disso tudo é que, se tentasse algo parecido há um ano e meio atrás, com certeza já teria abortado o projeto. Não abortei...recomecei!
Convenhamos, foi um começo muito mal! Um período de efeito que termina com o meu cachorro que morre e, coroando isso tudo, a foto de um jumento. PORRA!!!!!
O que me faz e insiste em manter este entulho é para que um dia, talvez na terapia (algo que falarei depois), eu encontre uma história que aponte para uma explicação, ou para uma invenção de algo mais nobre e que faça parecer exótico.
Hoje, sei apenas que, da morte do meu cão na segunda-feita até agora, quarta-feira, milhões de coisas aconteceram, dando a idéia que um ano passou. E que ano! Cheio de meandros, altos...que me mantiveram aqui, impulsionaram retorno.(também falarei sobre isso depois, pois estou numa tendências para exageros!)rs.
Finalizando e explicando a primeira postagem, o meu cão (Otto) realmente morreu segunda-feira e isso me causou uma dor terrível! Acho que morri um pouco também! È algo que estou pensando e que ainda tá mole, desanda e sinto agonia. Não sei se é assim...
Ao animal de abertura, gosto muito de jumento e não sei o motivo! Não sei se por um burrinho pequenininho do sítio da minha família chamado Querosene...não sei se por minha influência cristã e católica ou pelo trabalho opressor... Acho realmente um animal bonito!
A foto foi tirada, do nosso carro em movimento, por minha esposa. Esse burro mora na minha rua, trabalha muito e é cheio de histórias fantásticas. Chama-se Burro.
Na hora que Otto me faltou, apenas conseguia lembrar de Burro e da foto.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Grau Superlativo


Ultimamente, comecei a perceber que as pessoas mais próximas identificam um "certo" exagero nos eventos e emoções que narro. Na verdade, não sei sentir simplesmente! Admiro o detalhe, o supérfluo...e não respeito emoções contidas, mesmo até divulgando grandeza.
Hoje perdi o meu cão.